Nos dias mais frios do ano, é comum sentir os pés mais gelados do que o restante do corpo
Para algumas pessoas, a diferença de temperatura é tamanha que, até utilizando artigos de inverno, como meias ou pantufas, os membros inferiores continuam frios.
De acordo com especialistas, a sensação costuma ser normal, mas também pode indicar a presença de alguma patologia.
A condição natural para pés, mãos, lóbulos das orelhas e ponta do nariz serem, comumente, regiões mais frias do corpo é por se tratarem de extremidades. Isso significa que, muitas vezes, e por diversos motivos, são locais menos privilegiados pela circulação sanguínea.
"Uma das funções principais do sangue é transportar calor para o corpo todo", explica o médico cardiologista Bruno Caramelli, da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC). "As regiões mais distantes, que são onde tem circulação terminal — os dedos, a ponta do nariz, os lóbulos das orelhas, os dedos do pé — são as que estão mais distantes do coração. É onde o sangue 'bate e volta' pelas veias para o coração. Também são regiões que podem sobreviver mais tempo sem irrigação".
Em ambientes frios ou em condições atípicas, o organismo pode se aproveitar dessa capacidade utilizando um mecanismo de defesa chamado vasoconstrição.
"Se o organismo precisa perder menos calor, ele vai fechar os vasos, para o sangue — que é quem transporta o calor — não chegar para todos os lugares e assim não ter dissipação de calor. Não é possível fazer isso para o coração, para o pulmão, para o cérebro, porque são órgãos vitais, mas eu posso fazer isso para as regiões terminais", esclarece Caramelli.
Nestes casos, a recomendação é simples: mantenha-se aquecido. O médico reumatologista Marco Rocha Loures, presidente da Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR), lembra que, além de usar acessórios de inverno, vale ingerir líquidos quentes, como sopas e chás.
Mas nem sempre estar com as extremidades frias é normal.
'Quando ficam muito gelados, as mãos e os pés, com a cor muito branca ou arroxeada em relação ao corpo, e com a presença de formigamento dessas pontas dos dedos, realmente precisa procurar uma causa", alerta o presidente da SBR.
Segundo Loures, quando os sintomas são intensos — havendo, inclusive, a possibilidade de surgimento de feridas — o indivíduo deve buscar atendimento para passar por avaliações, acompanhamento e exames.
"Existem patologias autoimunes, como as doenças reumáticas, por exemplo a esclerodermia, às vezes a polimiosite e algumas outras vasculites autoimunes, que podem provocar extremidades frias".
Na avaliação de Caramelli, outra maneira de saber se há necessidade de buscar ajuda médica é notar se houve alteração no comportamento do organismo.
"Se foi assim a vida inteira, pode ser uma característica sua, você é assim mesmo, mantenha-se aquecido. Agora, o mais importante é notar se isso passou a acontecer recentemente. Se houve uma mudança de comportamento pode ser sinal de doença", explica o cardiologista.
De acordo com o médico, complicações cardiovasculares também podem causar esfriamento das extremidades, em razão do uso da vasoconstrição.
No caso de uma hemorragia, que é uma condição atípica, "a pressão vai cair, o que significa ter menos sangue para os órgãos vitais. Então o organismo se adaptou evolutivamente, ao longo de milhões de anos, para quando haver perda de sangue fazer vasoconstrição".
Outro caso citado por Caramelli é a insuficiência cardíaca, que se caracteriza pela incapacidade do coração de atuar adequadamente.
"O coração bombeia mal o sangue, que não chega nos braços, nos dedos. O organismo não sabe diferenciar se o que está acontecendo é uma hemorragia e, por isso, a pressão está caindo, ou se a pressão está caindo, porque o coração está fraco. Então a resposta é a mesma: faz vasoconstrição", exemplifica.