A obesidade é um problema de saúde pública que aumenta a cada ano. Um dos motivos para o crescimento dessa doença crônica é que ela complexa, com diversas causas e cercada de mitos e tabus.
Ao contrário do que muitos pensam, nem só dieta inadequada e sedentarismo são responsáveis pelo ganho de peso. Portanto, seu tratamento não deve se limitar a mudanças no cardápio e à prática de atividade física.
Em boa parte dos casos, questões emocionais —como estresse, ansiedade, baixa autoestima e transtornos alimentares — levam a pessoa a cometer excessos na alimentação, favorecendo que ela engorde.
Por isso, estudos evidenciam a importância do tratamento psicológico e psiquiátrico para lidar com as causas mais profundas da obesidade, além de possibilitar uma mudança de hábitos e controle da doença.
"A obesidade é uma condição que lida com muitas facetas. Tem o viés genético, do metabolismo, a relação social e a emocional com o comer, a relação familiar, de acesso e tudo mais. É uma condição complexa que precisa de intervenções multiprofissionais", explica a nutricionista Rejane Viana, que é mestre em bioquímica em saúde pela Escola Superior de Saúde do Instituto Politécnico do Porto (Portugal).
A especialista afirma que em seu consultório se depara com diversos casos de obesidade associados a questões emocionais. "Mudanças brusca na rotina, perdas, traumas, abusos, tudo isso são motivos que levam as pessoas a buscarem uma recompensa imediata na alimentação."
Isso ocorre pois diversos transtornos mentais podem afetar o nível de neurotransmissores ligados ao prazer, como a dopamina, a serotonina e a oxitocina, desequilibrando o funcionamento do organismo, segundo o endocrinologista André Vianna, vice-presidente eleito da SBD (Sociedade Brasileira de Diabetes).
Aí, a pessoa tende a recorrer a alimentos poucos saudáveis (doces, fast-foods e ultraprocessados, por exemplo), que estimulam a produção desses neurotransmissores e geram uma satisfação momentânea — mas quando consumidos em excesso levam ao ganho de peso.
O ideal é que o tratamento da obesidade seja multidisciplinar. Ou seja, vai envolver profissionais de diferentes especialidades, como endocrinologista, nutricionista, profissional de educação física, psiquiatras e psicólogos.
"Nós [os psicólogos] vamos trabalhar a rotina do paciente e ajudar a identificar quais são as dificuldades que ele tem para uma mudança de comportamento, que nunca é fácil. A obesidade está ligada à alimentação, uma necessidade básica, então a gente tem que entender os aspectos culturais e sociais desse indivíduo, como é a sua história com os alimentos etc.", afirma Ana Ivatiuk, doutorada em psicologia como profissão e ciência.
O psicólogo vai ajudar o paciente a identificar as causas do ganho de peso e ver as possibilidades de os comportamentos que levaram a isso.
Também vai auxiliar a melhorar a autoestima, entender que o emagrecimento é um processo de longo prazo e que os novos hábitos deverão ser mantidos para sempre. Nesse sentido, é importante evitar dietas muitos restritivas, nas quais o pacientes conseguem seguir por um curto período e até emagrecer rapidamente, mas logo desistem e voltam aos velhos hábitos.
"É preciso tomar muito cuidado, porque nessa onda de restringir com o objetivo de perder peso, você vai para um caminho de exageros alimentares que podem se tornar compulsões alimentares. É uma relação muito estreita e uma linha tênue", alerta Ivatiuk.
A nutricionista Isabela Scanavez, mestre em ciência pela USP, acredita que mais importante do que prescrever dietas é trabalhar a relação do paciente com a comida, também de forma multidisciplinar.
"Condutas restritivas e invasivas não são eficazes e o que a gente pode pode pensar de tratamento é mudança de comportamento, que tem a ver com o emocional."