Nova pesquisa sugere que as diferentes reações em relação a comidas apimentadas, como prazer ou dor, podem ser causadas pela forma como a expectativa molda experiências sensoriais
Muitas pessoas adoram alimentos extremamente apimentados — quanto mais picante, melhor. Alguns até procuram por comidas ardentes, animados em desafiar sua digestão com os pimentões mais fortes do planeta. Outras sentem aversão só de imaginar a sensação da pimenta na boca. Mas o que está por trás desses dois extremos? Um novo estudo pode trazer as respostas.
Segundo o trabalho, publicado na terça-feira (8/10) na revista PLOS Biology, as diferentes reações em relação a comidas apimentadas podem ser causadas pela forma como as expectativas moldam as experiências sensoriais. Em outras palavras, podemos achar a comida apimentada insuportável simplesmente porque esperamos que seja.
“As expectativas são poderosas”, explica Susan Albers, psicóloga clínica da Cleveland Clinic, em Ohio, que não participou do estudo. “Elas podem transformar uma sensação de queimação em uma experiência prazerosa ou desagradável, dependendo de como antecipamos o sabor.”
No estudo, pesquisadores chineses escanearam o cérebro de 24 pessoas que gostavam de comidas apimentadas e 22 que não gostavam.
Durante o exame cerebral, cada pessoa recebeu 30 borrifadas de molho picante de intensidade leve e alta, seguidas por água, enquanto viam dois pimentões azuis. Os pimentões não davam pista sobre o quão apimentado era o molho.
O teste foi repetido com os mesmos molhos picantes. Desta vez, no entanto, os participantes viram dois pimentões vermelhos quando o molho mais forte foi borrifado na boca, um pimentão vermelho e um azul quando o molho mais leve foi administrado, e dois pimentões azuis quando foi fornecida água.
Partes do cérebro ligadas ao prazer se acenderam nas pessoas que disseram adorar comidas picantes — em muitos casos, quanto mais forte o tempero, mais intenso o prazer.
Porém, o mesmo não aconteceu nos cérebros daqueles que não gostavam de pimenta — seus centros de dor se acenderam quando o molho picante foi administrado em ambos os testes. No entanto, a experiência de dor aumentou dramaticamente no segundo teste, quando o participante sabia que receberia o molho mais picante.
“Fiquei surpreso com a força com que as expectativas negativas amplificaram a resposta de dor no cérebro, mesmo que o estímulo fosse o mesmo”, afirma o autor principal Yi Luo, pesquisador da escola de psicologia e ciência cognitiva da East China Normal University, em Xangai.
“Isso destaca como nossa antecipação do desconforto pode intensificar significativamente a experiência da dor”, afirma Luo em comunicado.
Existem outros motivos — como a genética — para preferirmos um tipo de comida a outro. Veja o coentro: pessoas com um determinado gene dizem que coentro tem gosto de sabão, enquanto outras gostam do sabor.
“Parte disso pode ser expectativa, mas também pode ser a forma como você é biologicamente programado para experimentar a comida”, afirma Albers. “Todos provamos os mesmos alimentos de maneiras totalmente diferentes. Suas preferências gustativas são como uma impressão digital, totalmente únicas.”
Se você também quiser mudar sua mente sobre comidas apimentadas, aqui estão as sugestões de Albers:
Reformule as associações negativas: Se você não gosta de comida apimentada, tente encará-la com curiosidade em vez de aversão, diz Albers: “Essa mudança de mentalidade pode alterar sua percepção e experiência.”
Experimente diferentes temperos: Foque na experiência sensorial completa, orienta a especialista. Perceba os sabores, texturas e sensações de calor dos diferentes temperos sem julgá-los.
Use pistas visuais com cuidado: Preste atenção em como as pistas visuais de um alimento, como descrições de cardápio ou apresentação do prato, afetam suas expectativas, segundo Albers. Use essa consciência para gerenciar sua antecipação da experiência apimentada.
“Pegue o páprica. Por ser vermelho, algumas pessoas acreditam que será picante, e não é”, diz Albers. “Um curry é um tipo de tempero diferente de uma pimenta. Lembre-se de que as expectativas podem influenciar significativamente sua experiência.”
Ouça seu corpo: Enquanto come alimentos apimentados, observe as respostas do seu corpo. Perceba onde você sente o calor e como ele muda com o tempo, para entender seu limite pessoal de tolerância e prazer.
“Se você quiser aumentar sua tolerância a pimenta, faça isso devagar e com atenção. Comece com temperos mais suaves e aumente gradualmente”, diz Albers. “Não existe um ‘nível certo’ de apimentado — é sobre o que faz você se sentir bem.”
Combine alimentos apimentados com cuidado: Considere equilibrar sabores picantes com elementos refrescantes, como um pedaço de queijo ou pão. Dê pequenas mordidas primeiro, sugere Albers.
“Isso pode melhorar seu prazer geral e tornar a experiência mais gerenciável”, diz.
E quanto ao "Time Pimenta"? É possível que alguns alimentos sejam apenas muito fortes.
Na escala Scoville, que mede o quão picante é um pimentão, uma pimenta Carolina Reaper tem cerca de 1,7 milhão de Unidades de Calor Scoville, enquanto uma Naga Viper tem cerca de 1,4 milhão de unidades. Uma pimenta jalapeño tem em média de 3.500 a 8.000 unidades na escala Scoville.
"Comidas picantes podem aumentar seu metabolismo, sua frequência cardíaca, causar vômitos e desconforto gástrico, então definitivamente há uma resposta fisiológica acontecendo", diz Albers.
"Se você perceber que sua frequência cardíaca acelera muito rápido ou que você está começando a suar muito, isso pode significar que comida apimentada não é para você".