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Publicado em 19/12/2025 15:37:49

Trabalho doméstico afeta saúde das mulheres

Carga desequilibrada de tarefas implica em doenças e outros problemas
Imagem meramente ilustrativa (Foto: Canva)

Carga desequilibrada de tarefas implica em doenças, como depressão, para mulheres casadas com homens, culturalmente condicionados a cuidar menos da casa e dos filhos. Terapeuta indica caminhos para melhorar dinâmica

"O que eles chamam de amor, nós chamamos de trabalho não pago." A frase icônica da filósofa italiana Silvia Federici vai no ponto sobre como mulheres passam muito mais tempo cozinhando, limpando, planejando e cuidando dos filhos do que os homens. Um trabalho que, apesar de essencial, é desvalorizado na sociedade.

Assim, o casamento (para os fins deste artigo: entre uma mulher e um homem), frequentemente enquadrado como uma fonte de estabilidade e saúde, tem deixado muito a desejar nesse quesito.

A ciência mostra que o resultado desses arranjos não é apenas um contingente de mulheres exaustas. Mais de 20 anos de pesquisa apontam que a participação desproporcional das mulheres no trabalho doméstico e mental não remunerado tem consequências para sua saúde.

"É importante falar sobre quanto trabalho 'invisível' e emocional as mulheres realizam nas tarefas domésticas e nos papéis de cuidadoras", afirma Annie, uma mulher na casa dos 40 anos que mora na Tailândia. "Essa 'carga mental' muitas vezes não é reconhecida."

A maior parte das tarefas domésticas recai sobre as mulheres por razões culturais, e não por preferências pessoais, enfatiza o psicoterapeuta Ben Yalom. Ele se dedica, assim como seu pai, o psiquiatra Irvin Yalom, a investigar as complexidades das relações humanas.

"Grande parte do desequilíbrio nos papéis de homens e mulheres [vem] de como somos criados. Com os homens, há um certo tipo de treinamento de masculinidade do qual geralmente não temos consciência", disse Ben Yalom.

As mulheres, acrescentou, são treinadas para serem cuidadoras e emocionalmente alertas. "E os homens, como resultado, não assumem esse papel, não aprendem isso, o que é um problema."

 

Carga mental das tarefas domésticas

Mesmo quando ambos os parceiros trabalham, as mulheres carregam a maior parte da carga mental, gerenciando horários, planejando refeições e organizando tarefas. Pesquisadores descrevem isso como "trabalho cognitivo e emocional invisível", que mantém uma casa – e a sociedade –funcionando.

Um estudo realizado em 2023 na Suécia , envolvendo 14.184 adultos, descobriu que as mulheres gastam quase o dobro do tempo em trabalho doméstico não remunerado que os homens: cerca de 1 em cada 10 mulheres contra 1 em cada 20 homens relataram fazer mais de 30 horas de trabalho doméstico por semana.

As mulheres do estudo também eram significativamente mais propensas a apresentar sintomas depressivos ou a serem diagnosticadas com depressão. A tensão de gerenciar essa carga de trabalho é considerada uma das causas desse fenômeno.

Remi, uma mãe que trabalha em tempo integral na Alemanha, relata que o desequilíbrio começa quase inconscientemente. "Isso era normal para mim — trabalhar e cuidar da casa."

Após longos dias de trabalho, Remi disse que muitas vezes era ela quem cozinhava, automaticamente. "Adoro cozinhar, mas às vezes isso pesa muito se não tenho um dia bom."

Muitas mulheres entrevistadas pela DW disseram ter percebido um padrão: seus maridos muitas vezes só ajudavam quando solicitados.

No início do casamento, Remi disse que se via constantemente lembrando o marido: "Isso precisa ser feito, você pode fazer isso, por favor?" Esse monitoramento "também faz parte do estresse que carregamos".

A maternidade intensificou a sensação de desequilíbrio para Remi. "Você acorda, se arruma, a criança depende de você — não do pai", disse, acrescentando ainda que seu marido só intervinha depois que ela comunicava suas necessidades.

Outros dados de 2005 corroboram esse cenário. Pesquisadores acompanharam 128 pais de primeira viagem, antes do nascimento de seus filhos e seis meses após o nascimento. O estudo mostrou que, após o parto, a carga de trabalho doméstico das mulheres aumentou drasticamente, enquanto a dos homens permaneceu praticamente inalterada. As mães reduziram o tempo dedicado ao trabalho remunerado para cuidar mais dos filhos e, como resultado, relataram menor satisfação.

 

Tornando o trabalho doméstico "visível"

A psicóloga Ishita Pateria, que mora na Índia, trabalha com casais para tornar tangível o que ela chama de "fardo oculto".

Pateria frequentemente pede aos homens que assumam todas as tarefas domésticas por um mês. "Isso os ajuda a cultivar empatia", disse ela. "No final do mês, muitos parceiros masculinos começam a contribuir mais depois de ver a carga de trabalho."

Um artigo publicado em 2025 destacou a necessidade de abordagens como a de Pateria para cultivar empatia em relação ao trabalho doméstico nos homens.

Mulheres nos Estados Unidos e na Europa, incluindo a Itália, onde os pesquisadores estavam baseados, realizavam, a maior parte do trabalho mental nas famílias.

Esse trabalho mental estava associado a níveis mais altos de estresse, menor sensação de satisfação e maiores efeitos na carreira das mulheres em comparação com os homens.

Yalom observou que muitos homens simplesmente não compreendem o trabalho mental que as mulheres realizam: "Muitas vezes, um homem, em graus variados, nem mesmo tem consciência das coisas que estão sendo feitas."

Mesmo em lares onde ambos os parceiros trabalham, as mulheres muitas vezes assumem um segundo turno invisível, e isso pode ter consequências reais para seu bem-estar, estresse e saúde a longo prazo.

"As mulheres se esforçam muito não apenas para cuidar de seus parceiros, mas também dos filhos e da casa. É uma carga maior, um estresse maior. Mas o estresse causa problemas de saúde para as mulheres", disse Yalom.

 

Equilibrando os relacionamentos modernos

Os papéis econômicos nos relacionamentos mudaram nos últimos 20 anos, cada vez mais equiparados. Mas as expectativas culturais não acompanharam essa mudança.

Para as mulheres, o custo desse desequilíbrio é mensurável e grave, afetando a saúde mental, os níveis de estresse e o bem-estar a longo prazo.

"As expectativas patriarcais de 'autoanulação' [...], muitas vezes somos ensinadas a amar através da autoanulação", disse Annie. Mas o amor, acrescentou ela, é uma escolha, não uma obrigação.

Perceber isso, disse Annie, "me ajudou a resistir à exaustão emocional e a redefinir o cuidado além das expectativas patriarcais. Tenho certeza de que odeio lavar roupa — prefiro contratar alguém para delegar essa tarefa".

Combinar limites claros, como esses, com exercícios, como a abordagem de desenvolvimento da empatia de Pateria, oferece um modelo para relacionamentos modernos: os casais podem compartilhar conscientemente as responsabilidades emocionais e domésticas para melhorar a equidade, a comunicação e o apoio mútuo.

Fonte: Kaukab Shairani / Deutsche Welle

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