Você tem uma empresa ou serviço na área da saúde? Apareça aqui.
PUBLICIDADE

Telefones úteis em caso de emergência

SAMU
192
Corpo de bombeiros
193
Brigada Militar
190
Publicado em 28/08/2025 17:45:39

Dor pode ser aliviada sem remédio

Conheça os analgésicos naturais do corpo
Imagem meramente ilustrativa (Foto: Canva)

Mente, cérebro, ossos e sangue estão conectados e podem ajudar no alívio corporal

Quando as dores de cabeça ou as dores musculares nos atingem em casa, procuramos analgésicos comuns. Geralmente, são medicamentos como o ibuprofeno, a aspirina ou o naproxeno, todos analgésicos conhecidos no mundo médico como anti-inflamatórios não esteroides (AINEs). O analgésico não-AINE mais comum é o paracetamol, que não é um anti-inflamatório, mas funciona bem para reduzir a febre e geralmente é mais suave para o estômago.

Mesmo antes de recorrer a esses medicamentos sem receita, podemos aplicar gelo em um cotovelo ou na região lombar dolorida, ou mergulhar em uma banheira quente para aliviar músculos ou articulações doloridas.

Em ambiente clínico, certamente valorizamos quando o dentista anestesia nossa boca com Novocaína. Consideramos a anestesia algo natural ao entrar em uma cirurgia ou ao tomar uma anestesia peridural durante o parto. Depois, é claro, há os medicamentos pós-operatórios — incluindo, quando necessário, opioides prescritos para controlar a dor aguda durante a recuperação.

De todas essas formas, nos acostumamos a encarar o alívio da dor como um "trabalho de fora para dentro". Mas, na verdade, sistemas bioquímicos complexos, mecanismos moleculares e redes mente-corpo para o controle e a prevenção da dor já existem dentro de nós, um "trabalho de dentro para fora" que a ciência está apenas começando a desvendar.

Mente, corpo, cérebro, ossos e sangue: cada parte de nós está conectada não apenas para sentir dor, mas também para aliviá-la. É um sistema incrível que recebe pouca atenção, e que eu experimentei pela primeira vez há muitos anos.

Mesmo antes de ir para o pronto-socorro ou receber qualquer medicação, pude sentir meu corpo começando a se acalmar, meus próprios mecanismos de cura assumindo o controle. A dor não desapareceu, mas vinha em ondas, com períodos de alívio real entre elas. E, depois, a simples chegada da minha mãe proporcionou não apenas conforto mental e emocional, mas também um conforto físico real.

Ter uma pessoa que se importa em sua vida pode melhorar sua resiliência à dor, enquanto o isolamento ou a solidão podem agravá-la. Lembro-me da primeira vez que uma das minhas filhas tomou uma injeção. Eu nem precisei pensar no que fazer: meu primeiro instinto foi confortá-la com a voz e o toque.

Às vezes, quando estamos afastados por causa de uma lesão dolorosa, uma ligação de um amigo ou até mesmo ouvir música pode fazer a diferença na forma como nos sentimos, inundando os circuitos de processamento da dor do cérebro com sentimentos e emoções positivas. Treinar seu cérebro dessa forma é uma parte crucial da mistura de cura para o alívio da dor.

Pense nessa mistura de cura como uma caixa de ferramentas expandida que vai além do que a maioria das pessoas considera as ferramentas “reais” para o alívio da dor. A conversa convencional tende a se concentrar em medicamentos e intervenções médicas, mas quero chamar sua atenção para outras ferramentas, menos valorizadas. Vamos começar com os analgésicos embutidos no seu corpo, o sistema opioide endógeno.

 

Analgésicos naturais do corpo

Você já deve saber que os opioides estão entre os analgésicos mais poderosos do mundo. Mas o que talvez não saiba é que seu corpo é capaz de produzir a forma natural dessas mesmas substâncias. Elas são chamadas de endorfinas, um termo que une a palavra grega endógeno (que significa "vindo de dentro") e morfina.

Embora as endorfinas sejam apenas um dos vários tipos de moléculas de proteína com essa qualidade analgésica, a palavra é frequentemente usada para se referir a todas elas de forma coletiva. E, como você está prestes a descobrir, elas podem influenciar seu humor e sua percepção da dor. Aumentar as endorfinas significa diminuir a dor.

A natureza serve tanto de inspiração quanto de guia para os cientistas em busca por maneiras de aproveitar ou imitar a genialidade única na resolução de problemas. Um pássaro em voo, a resistência da teia de uma aranha, a aderência da pata de uma lagartixa — tudo isso serviu de modelo para invenções científicas. Inovações bioinspiradas estão por toda parte, desde arranha-céus até seringas.

Há muitos anos, quando os desenvolvedores de medicamentos começaram a procurar moléculas e mecanismos que pudessem reduzir a dor com segurança, eles se inspiraram em nosso próprio corpo e em seu sistema opioide endógeno. Lembre-se que, além de reduzir a dor, o sistema está envolvido na regulação emocional e do humor, na neurogênese (crescimento de novos neurônios no sistema nervoso), na neuroplasticidade, no aprendizado e na memória, e no sistema de processamento de recompensa do cérebro.

Como funciona? Os opioides, sejam eles endógenos ou os encontrados em narcóticos (chamados de opioides exógenos), se ligam a receptores opioides localizados na membrana externa das células nervosas no cérebro, na medula espinhal e em outros órgãos. Como chaves moleculares em fechaduras, quando os opioides se ligam a esses receptores, eles desencadeiam uma cascata de mudanças químicas dentro e entre os neurônios, produzindo sensações de prazer e alívio da dor.

Os receptores também estão presentes no circuito de recompensa do cérebro, que usa o neurotransmissor dopamina para marcar experiências de prazer. É por isso que muitas vezes queremos repetir certas experiências. Isso vale para todos os opioides.

Mas os opioides endógenos têm uma vantagem interna por serem uma parte natural do sistema interligado do corpo para a modulação da dor. Como programas de software que fazem parte do mesmo sistema operacional, eles se integram perfeitamente. A evolução ajustou suas ações com precisão meticulosa, incluindo a forma como o corpo os metaboliza para que possam ser ativados ou desativados constantemente, além de gerenciar minuciosamente as doses. Isso previne algumas das complicações que surgem com medicamentos opioides externos, incluindo constipação, névoa cerebral, respiração lenta, náusea, e tolerância e dependência de drogas.

A natureza ainda adicionou uma ferramenta de sobrevivência de emergência: a analgesia induzida pelo estresse, que suprime temporariamente a dor. Sob estresse extremo, os hormônios de luta ou fuga ativam agressivamente o sistema opioide endógeno, o que reduz muito a dor. A dor acaba voltando quando essa resposta hormonal de emergência diminui, mas, nesse meio tempo, lesões traumáticas podem não ser imediatamente registradas como dolorosas para um soldado ferido ou uma criança empalada por uma cerca.

"Quando você observa a liberação de norepinefrina e opioides para a resposta de fuga e medo — é uma das moléculas analgésicas e antidolorosas mais potentes que existem", diz Daniela Salvemini, Ph.D., Professora William Beaumont e diretora do Instituto de Neurociência Translacional da St. Louis University.Tendo dedicado sua carreira a entender os mecanismos que impulsionam a dor neuropática e as moléculas que podem aliviá-la, ela ainda se maravilha com "o que nossos corpos nos deram como kits de sobrevivência". Para alguns, o mecanismo entra em ação imediatamente, e para outros, leva consideravelmente mais tempo, mas todos parecem ter esse "plano B" natural para as circunstâncias mais terríveis.

Uma variedade de estressores, não apenas a dor física, pode ativar o sistema opioide endógeno. Estes incluem fatores psicológicos, neurológicos, fisiológicos e até ontológicos (espirituais ou metafísicos), que podem ativar o sistema para:

- Interromper a dor;

- Reduzir a intensidade da dor;

- Diminuir o desconforto emocional da dor;

- Acalmar o sistema nervoso e aumentar a resiliência ao estresse;

- Promover uma saúde cerebral robusta e até mesmo fazer crescer células cerebrais em resposta à dor.

Como a maioria desses benefícios dos opioides endógenos ocorre em um nível subconsciente, esses processos foram por muito tempo considerados inacessíveis, ou seja, não algo que você pode controlar da mesma forma que toma um comprimido. Mas agora sabemos que simplesmente se mover — correr ou fazer uma caminhada rápida — pode desencadear uma liberação de endorfina que proporciona a sensação que chamamos de "barato da endorfina" ou "barato de corredor".

Contemplar um pôr do sol ou um ente querido também pode ajudar a fazer isso. Você pode ativar seu próprio sistema opioide endógeno e experimentar o poder surpreendente de seus circuitos neurais para interromper a dor e ampliar o prazer. Agora sabemos que, apenas por escolher focar em algo bonito ou positivo, uma maravilhosa cascata de eventos se desenrola em nossos corpos que pode mudar nossa experiência da dor.

 

Placebo: uma força fantasma para o alívio da dor

Vamos analisar mais de perto o termo efeito placebo, que muitos consideram uma pílula falsa ou um tratamento de simulação usado em pesquisas clínicas para comparar os efeitos com o tratamento "real" que está sendo estudado. Geralmente, os pesquisadores comparam os dois, porque qualquer melhora na saúde obtida com um medicamento novo ou experimental deve superar o placebo por uma quantidade mensurável antes de ser considerada digna de ser levada adiante.

Reconhecendo o valor intrínseco de um placebo como algo que pode melhorar a dor, no entanto, os cientistas agora estão investigando o efeito placebo no sistema opioide endógeno. Isso faz sentido, pois sabemos que fatores cognitivos — nossos pensamentos, crenças e expectativas — podem afetar nosso bem-estar físico e emocional ao ativar o sistema opioide endógeno. Também reconhecemos que o efeito de qualquer tratamento, placebo ou "real", pode ser afetado pelo significado que atribuímos a ele, além da propriedade física do próprio tratamento.

Duas descobertas importantes sobre placebos ficaram mais claras com o tempo. Primeiro, não existe um único efeito placebo; os efeitos placebo são influenciados por uma infinidade de fatores a qualquer momento, incluindo expectativas (positivas ou negativas) sobre o tratamento. Segundo, essas expectativas, embora intangíveis, são o produto de experiências subjetivas e fisiológicas que estão conectadas aos circuitos de processamento da dor do cérebro e podem ser modificadas ao longo do tempo. Isso significa que, longe de ser apenas um tratamento de simulação, o placebo é uma ferramenta legítima em sua caixa de ferramentas para a dor.

 

Novo conhecimento muda continuamente a medicina da dor

Agora vamos passar para as ferramentas externas. Lembre-se que elas podem mudar, ou a forma como as usamos pode mudar, à medida que a compreensão científica evolui. Aqui está um exemplo simples que envolve um remédio caseiro tão comum e amplamente aceito que você ficará surpreso ao saber que ele está no centro de um debate acalorado há quase cinquenta anos — e contando.

Você provavelmente já ouviu falar em RICE — do inglês, rest, ice, compression, and elevation (repouso, gelo, compressão e elevação) — e talvez até o tenha usado para tratar uma entorse, distensão muscular ou contusão dolorosa. Desde que me lembro, o RICE era a primeira resposta recomendada para o tratamento de lesões agudas nos tecidos.

O conceito de RICE data de 1978, quando um médico de medicina esportiva chamado Gabe Mirkin cunhou o termo, que foi rapidamente adotado por técnicos e profissionais de saúde. Na época, a sabedoria convencional era que reduzir a inflamação, junto com o repouso, diminuiria a dor e aceleraria a cura. Elevar levemente uma lesão para diminuir o fluxo sanguíneo e aplicar uma pressão suave não apresentava riscos médicos, então o tratamento RICE cresceu em popularidade.

Sempre que eu tinha uma lesão leve, também seguia esses passos sem pensar muito. Recentemente, no entanto, em meio a um debate crescente, alguns candidatos mais novos incluem PEACE (protect, elevate, avoid anti-inflammatories, compress, and educate - proteger, elevar, evitar anti-inflamatórios, comprimir e educar); LOVE (load, optimism, vascularization, and exercise - carga, otimismo, vascularização e exercício); e POLICE (protection, optimal loading, ice, compression, and elevation - proteção, carga ideal, gelo, compressão e elevação). Sem entrar em todas as diferenças — desde a vascularização (formação de vasos sanguíneos) até a avaliação da carga adequada para um músculo lesionado —, eu apenas destacaria que a conversa em expansão reflete esse foco em aprimorar abordagens de saúde e médicas à medida que novas descobertas científicas surgem. O que considero mais convincente é um consenso crescente, embora informal, mas bem fundamentado, que sugere que a melhor opção é substituir o RICE pelo MEAT, que significa movement, exercise, analgesia, and treatment (movimento, exercício, analgesia e tratamento).

 

A razão por trás da mudança

O motivo é este: a desvantagem do RICE é que ele suprime a inflamação.

Como você leu nos capítulos anteriores, um certo nível de inflamação é necessário para ativar os processos de cura e reduzir a chance de desenvolver dor crônica. Embora a diminuição da inflamação possa inicialmente aliviar a dor, ela também pode atrasar ou inibir a cicatrização de longo prazo dos tecidos. A lição é de importância crítica quando se trata de dor: deixe o corpo se cuidar da forma mais natural possível. Dado o que sabemos agora, a menos que você tenha um osso fraturado ou não consiga suportar peso, o RICE não deveria mais ser a recomendação geral para o controle da dor.

Em vez disso, a ênfase agora está nestes quatro passos:

Movimento: Movimentos ou exercícios leves melhoram o fluxo sanguíneo e a circulação de agentes de cura para a área lesionada. Isso estimula músculos, tendões, ligamentos, cartilagem e outros tecidos, enquanto a estagnação pode atrasar a cura e levar a dores contínuas.

Exercício: Este componente deve ser iniciado assim que a dor diminuir. Para uma lesão muscular, isso envolveria movimentos suaves projetados para restaurar lentamente a função e a flexibilidade. Para outros tipos de tecidos moles machucados ou inchados, por exemplo, de cirurgia ou trauma, o exercício leve melhora ainda mais a circulação.

Analgesia: Uso cuidadoso de analgésicos se necessário, bem como o uso de opções naturais como açafrão-da-terra ou capsaicina em vez de anti-inflamatórios, que podem inibir a cura pelas razões já descritas. Considere também anestésicos tópicos e adesivos analgésicos, ou neuroestimulação transcutânea leve, como o dispositivo TENS, que aplica uma corrente de baixa voltagem na pele.

Tratamento: O componente final de Meat refere-se à variedade de tratamentos iniciais personalizados por meio de diversas abordagens terapêuticas. Isso pode incluir fisioterapia, massagem, acupuntura ou outras técnicas de "agulhamento seco" (agulhas sólidas sem medicação), liberação miofascial (e outras técnicas que usam massagem direcionada para liberar a tensão em uma área muscular específica), mobilização articular (para melhorar a amplitude de movimento), bem como o uso de gelo e calor.

Tanto a terapia com calor quanto a com frio podem ajudar a aliviar a dor, embora funcionem de maneiras diferentes e sejam mais adequadas para situações distintas.

A terapia com frio é melhor para dores de curto prazo, aplicada nas primeiras 72 horas para combater o inchaço. Lembre-se que, embora a temperatura fria diminua o fluxo sanguíneo, o que pode ajudar a reduzir a dor de entorses, distensões e outras lesões agudas, ela também pode diminuir a inflamação, retardar a cicatrização e aumentar a probabilidade de dor crônica.

Mergulhos regulares em água fria ganharam muitos adeptos nos últimos anos, e alguns estudos sugerem que a exposição regular ao frio por meio de banhos de gelo ou mergulhos pode aliviar o desconforto após treinos intensos e ajudar na regulação do estresse. No entanto, essas podem não ser as melhores opções para tratar uma lesão. A prática continua sendo objeto de debate porque também pode apresentar riscos para algumas pessoas — em particular aquelas com problemas cardiovasculares.

A preocupação é com algo conhecido como resposta de choque ao frio, que pode levar a um aumento da pressão arterial e da frequência cardíaca. Algumas pessoas também podem hiperventilar, o que pode levar ao desmaio.

A terapia com calor é mais indicada para dores musculares persistentes, rigidez e condições de dor crônica. Por aumentar o fluxo sanguíneo, o que pode ajudar a relaxar os músculos e aliviar dores nas articulações, a terapia com calor é frequentemente recomendada antes de exercícios ou alongamentos, ou para aliviar a rigidez matinal. A aplicação de calor em baixa intensidade por um período mais longo, como com compressas térmicas que você pode comprar em farmácias, pode reduzir a rigidez e a tensão, e aumentar a flexibilidade. Apenas certifique-se de seguir as instruções do produto.

De qualquer forma, não exagere. Ao usar uma compressa quente ou fria, enrole-a em uma toalha fina para proteger a pele e aplique-a por não mais do que 10 a 20 minutos para evitar danos à pele. Você pode fazer isso várias vezes ao dia, mas certifique-se de fazer pausas entre as aplicações para permitir que sua pele e tecidos se recuperem. E pare de usar a terapia com calor ou frio imediatamente se ela piorar sua dor ou desconforto, ou se sua pele reagir.

Nem MEAT nem RICE estão completamente errados ou sempre certos. Mas com uma compreensão básica desses pontos de diferença, você está mais bem equipado para avaliar suas opções. A conclusão é que o desejo por uma solução rápida pode atrasar seu processo geral de cura; como regra geral, seja conservador com intervenções iniciais como essas e preste atenção à forma como seu corpo responde; deixe o corpo se curar e intervenha apenas quando necessário.

Fonte: Dr. Sanjay Gupta / CNN
dor
dores
MEAT
RICE

CONTINUE SE INFORMANDO

Receba nossas notícias pelo WhatsApp