Pacientes em estado grave podem aguardar até seis meses por um coração; lista pondera fatores como gravidade e compatibilidade sanguínea
O hospital Albert Einstein confirmou no domingo (20/8) que o apresentador Fausto Silva, de 73 anos, terá de passar por um transplante cardíaco e foi colocado na fila de espera do Sistema Nacional de Transplantes (SNT) do Ministério da Saúde.
Faustão está internado desde o dia 5 de agosto para tratamento de uma insuficiência cardíaca.
"Em virtude do agravamento do quadro, há indicação para transplante cardíaco. O paciente está em diálise e necessitando de medicamentos para ajudar na força de bombeamento do coração", diz nota enviada pelo hospital.
Mas quem organiza a fila de espera por transplantes no Brasil? Dá para fazer transplante fora do SUS? Quais são os riscos envolvidos? Quanto tempo de vida Faustão pode ter após a cirurgia? Explicamos a seguir.
No Brasil, todos os transplantes de órgãos respeitam o SNT, sejam eles custeados pelo SUS, por planos de saúde ou pagos pelo paciente.
Segundo o cardiologista Lázaro Miranda, o paciente só entra na lista após ter seu estado de saúde avaliado pela equipe médica. Se ele e a família concordarem, o médico pode inseri-lo no SNT.
Cada estado ou região organiza a sua própria lista e todas são monitoradas pelo sistema e outros órgãos de controle federais. A fiscalização é feita para que nenhuma pessoa conste em duas listas diferentes e que nenhuma norma legal seja desrespeitada.
A fila funciona por ordem cronológica de inscrição, mas é balizada por outros fatores, como gravidade e compatibilidade sanguínea e genética entre doador e receptor.
Porém, no caso de transplantes cardíacos, têm prioridade os casos em que o paciente necessita de assistência circulatória, ou seja, precisa de equipamentos que cumpram a função do coração ou de suas partes para sobreviver.
A fila por um transplante cardíaco pode variar conforme seu estado de saúde do receptor, explica o presidente do InCor e apresentador do CNN Sinais Vitais, Roberto Kalil.
O cardiologista afirmou nesta segunda-feira (21/8) que um paciente internado em estado grave pode esperar por meses até que o SNT encontre um coração compatível. No caso de pacientes que estão em casa com tratamento ambulatorial, a fila pode se estender por até dois anos.
A fila de espera para transplantes de coração no Brasil é de 386 pessoas atualmente, segundo a Central Nacional de Transplantes (CNT), ligado ao Sistema Nacional de Transplantes (STN).
No primeiro semestre de 2023, foram realizados 244 transplantes cardíacos realizados no país, número 16% superior ao do mesmo período do ano passado.
Conforme explicou Kalil, o Brasil conta com vários centros capacitados para a realização de transplantes cardíacos. O problema, no entanto, é a falta de doadores, que acaba alongando a fila de espera.
"O Brasil tem muito menos doadores do que o necessário. A fila é controlada pela secretaria da saúde e depende do paciente ter prioridade ou não para o transplante. Os número de brasileiros está muito aquém pra diminuir as filas não só do transplante cardíaco, mas dos transplantes de uma maneira geral", afirmou.
Como toda cirurgia de grande porte, um transplante de órgãos traz uma série de riscos calculados pela equipe médica no momento da opção por esse tipo de tratamento.
O principal risco é a rejeição do órgão transplantado, pois pode fazer com que o paciente precise receber um novo transplante. Ele também pode rejeitar o órgão tardiamente, o que demanda tratamento com medicamentos que diminuem a atividade do sistema imunológico.
O uso de imunossupressores –necessários para evitar a rejeição– também pode causar infecções e outros efeitos colaterais listados pelo SNT, como hipertensão arterial, linfomas, tumores de pele e toxicidade do sistema nervoso, por exemplo.
De acordo com o cardiologista Lázaro Miranda, atualmente, um paciente transplantado pode viver entre 15 e 20 anos após a cirurgia.
"Evidentemente essa sobrevida estará condicionada às comorbidades, individualmente, presentes no transplantado", ressalta o médico.
Os dados do SNT apontam que o índice médio de sobrevida, depois de um ano, é de 70% para o enxerto e para o paciente.
A legislação brasileira não exige que um paciente registre em documentos ou cartórios a vontade de ser um doar órgãos. O mais importante, conforme o SNT, é que o potencial doador avise sua família e amigos.
Um dos principais motivos para que um órgão não seja doado no Brasil é a negativa familiar, já que cerca de metade das famílias entrevistadas negam a autorização para a retirada de órgãos e transplantes do potencial doador.
Em vida, um doador pode doar um dos rins, parte do fígado, parte do pulmão ou parte da medula óssea.
Um doador falecido após morte encefálica que não tenha sofrido parada cardiorrespiratória pode doar coração, bem como pulmões, fígado, pâncreas, intestino, rins, córnea, vasos, pele, ossos e tendões.
No caso de o doador ter morrido por parada cardiorrespiratória, será possível doar apenas tecidos para transplante, como córnea, vasos, pele, ossos e tendões.
Após a retirada do coração do doador, em quanto tempo ele deve ser transplantado?
Um coração pode demorar no máximo quatro horas para ser transplantado após a retirada do corpo do doador.
Em contrapartida, um pulmão pode esperar até seis horas. No caso do fígado e do pâncreas, o tempo máximo sobre para 12 horas. Os rins, por sua vez, podem demorar até 48 horas.