Para o escritor franco-argelino Albert Camus, só existia um problema realmente sério na filosofia: o suicídio. Em outras palavras, a pergunta que deveria ser a mais importante de todo grande pensador é "a vida vale a pena ser vivida?"
Não acho que essa pergunta possa ser respondida em termos lógicos, pois o que mantém o ser humano vivo não é a razão e sim o instinto. Aliás, Camus pensava tanto nesse assunto que ele achava a vida uma coisa absurda, pois, de um ponto de vista estritamente racional, ela não tem sentido, mesmo que o ser humano insista em buscá-lo. Este filósofo usava a alegoria de que o homem é existencialmente condenado a cada dia rolar uma pedra para o pico de uma montanha, sendo que no dia seguinte a pedra sempre volta para o seu ponto de origem. A solução para o absurdo é simplesmente aceitar que isso não pode ser mudado e que a única coisa que podemos fazer é continuar rolando nossas pedras.
O problema começa quando intelectualizamos o que sentimos. "Não vou rolar a pedra hoje", é o que pensamos quando acordamos em dias difíceis. E assim entramos em crise, deixamos de fazer o que tem que ser feito e no fim…melhoramos e voltamos ao começo da montanha. Esse ciclo é exaustivo, sobretudo para os deprimidos. Quem se suicida tem a percepção de que não aguenta mais voltar para o ponto de origem… Na verdade aguenta, só não tem consciência de que toda crise é passageira.
Quando estamos na pior acreditamos que a vida existe apenas a partir daquele olhar pessimista, que é como se a verdade sobre a existência estivesse diante de nossos olhos e assim todas as coisas negativas e inerentes à condição humana se tornam acentuadas. De fato, é sensato perceber que nem todos os nossos sonhos serão alcançados, que frequentemente nos apaixonamos e damos atenção a pessoas que não estão interessadas na gente, que não importa o quanto nos esforçarmos jamais teremos tanto dinheiro quanto pessoas que não merecem a fortuna que têm. Mas essas coisas deveriam nos impedir de tomar um mate e contemplar o pôr do sol? Essas coisas valem mais que rir com os nossos amigos? Que brincar com nossos bichos de estimação? Que descobrir como termina a nossa novela favorita?
Nós não podemos viver uma vida que não seja absurda em suas contradições, mas não podemos deixar que essas adversidades nos tornem cegos e nos façam esquecer que sim, a vida tem um lado bom. Na alegria e na tristeza, o melhor a ser feito é simplesmente continuar rolando a pedra!
***
Caso precise de ajuda, converse com alguém próximo ou entre em contato com o Centro de Valorização Da Vida (CVV). Você pode ligar para 188 ou entrar em contato pelo site do chat (cvv.org.br).
(*) Leonardo Stoffels é Psicólogo e atende em Cerro Largo.