Vírus sincicial respiratório (VSR) é mais frequente no outono e no inverno e pode ser fatal em bebês, crianças e idosos
Nos últimos anos, infecções também foram registradas em níveis altos fora da época. Para especialista, a Covid-19 "bagunçou" a sazonalidade do VSR
O VSR esteve presente em 30% dos casos de doenças respiratórias registradas no Brasil nos primeiros três meses de 2023. Entre janeiro e março, foram mais de 3,3 mil infecções - dessas, 95% atingiram apenas bebês e crianças de 0 a 4 anos.
Os dados do Ministério da Saúde, coletados e monitorados pela iniciativa Infogripe, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), mostram uma mudança de padrão na circulação do VSR, um vírus muito transmissível e bastante perigoso. Conhecido por ser o "vilão" da temporada outono e inverno, ele aparecia pouco nos meses mais quentes, mas o comportamento mudou nos últimos anos.
- No primeiro trimestre deste ano, o VSR causou mais infecções que o vírus da gripe;
- Ele só perde para a Covid-19, que ainda representa mais de 50% dos casos positivos entre doenças respiratórias;
- Em 2022, foram registrados 14.489 casos de VSR no Brasil - 13.542 (93%) somente na faixa etária de 0 a 4 anos.
Ao que tudo indica, a Covid-19 "quebrou" a sazonalidade do VSR de forma indireta, fazendo com que os casos do vírus sejam registrados em níveis por vezes elevados durante o ano todo.
A infecção causada pelo VSR pode ser grave em grupos de risco, como bebês, crianças, idosos e portadores de distúrbios cardíacos congênitos ou doenças pulmonares crônicas.
Apesar de ser pouco conhecido, o VSR sempre esteve presente no Brasil, circulando junto com outros vírus respiratórios, e é bem semelhante ao vírus influenza, causador da gripe.
- Os sintomas são parecidos como os de um resfriado comum: febre, tosse, espirros, coriza e mal-estar.
- Em adultos com imunidade elevada e boas condições de saúde, eles desaparecem em poucos dias.
- Mas, entre os pequenos e os mais velhos, a infecção pode evoluir e atingir brônquios, alvéolos e pulmões, o que pode ser fatal. Entre os sinais, estão febre alta, muita tosse e, principalmente, dificuldade para respirar.
Em casos graves, o VSR causa bronquiolite, doença que dificulta a chegada do oxigênio aos pulmões, e pneumonia, principalmente em bebês prematuros ou no primeiro ano de vida.
"É um vírus que não dá imunidade duradoura. Você não pega só uma vez na vida. As reinfecções vão ser comuns. A segunda, a terceira, a quarta, a quinta vez que você se encontra com o vírus, a tendência é ter sintomas mais leves. Então, o risco maior é nos mais novos, que não tem imunidade, ou nos mais velhos, que perderam a imunidade", disse o pediatra infectologista Renato Kfouri.
Transmissão: o VSR é MUITO contagioso e é transmitido pelo ar ou pelo toque de objetos contaminados.
Prevenção: é muito parecido com o que vivemos na pandemia. Evitar ambientes fechados com aglomeração, higienização das mãos e uso de máscaras ajudam na redução da transmissão.
De acordo com Kfouri, as infecções por VRS sempre precedem os casos de influenza no Brasil.
- A sazonalidade do vírus varia de acordo com a região: no Norte, por exemplo, começa em fevereiro. Já no Sul, em abril;
- Em todos os casos, o período de prevalência das infecções vai, no máximo, até agosto, segundo o Ministério da Saúde.
Porém, a pandemia desorganizou o protagonismo dessa circulação. No período de confinamento, muitas crianças não desenvolveram a imunidade necessária contra o VSR - segundo estudos, a maioria das crianças tem contato com o vírus até os 3 anos de idade, mas sem complicações graves.
"O distanciamento, as crianças fora da escola, fizeram com que a gente não tivesse esse vírus em circulação. Isso acumulou um número grande de suscetíveis a ele: aquelas crianças que se infectariam no primeiro ou segundo ano de vida não se infectaram, não se expuseram ao vírus", disse o médico.
"Com a retomada das rotinas e a retirada da máscara, as crianças começaram a se infectar. E agora a gente está vendo um aumento na circulação de vírus e mais crianças infectadas", explicou Kfouri, que também presidente o departamento de imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).
Isso justifica os casos de VSR registrados fora de época. Mas, mesmo com o vírus circulando em períodos não esperados, o pico sempre ocorre nos meses mais frios. Foram mais de 7,2 mil infecções por VSR entre abril e julho de 2022 contra 4,1 mil entre outubro do mesmo ano e janeiro de 2023.
Segundo o pediatra, a tendência é de que a sazonalidade "se reorganize" com o tempo.
Ainda não. Farmacêuticas no mundo todo estão há anos trabalhando na criação de uma vacina contra o VSR por conta da letalidade do vírus em bebês e idosos.
- A Pfizer elabora uma vacina para gestantes, que protegem a mãe e o bebê contra o VSR, e outra para idosos. Testes clínicos de fase 3 mostraram uma eficácia de mais de 80% nos dois imunizantes;
- A vacina da farmacêutica GSK se mostrou 82,6% eficaz contra a doença em pessoas com 60 anos ou mais.
Até o momento, não houve aprovação para uso dos imunizantes por agências reguladoras internacionais.
Enquanto a vacina não chega, o Sistema Único de Saúde (SUS) oferece um medicamento para prevenir o VSR: é o palivizumabe, um anticorpo monoclonal que não permite que o vírus se hospede nas células humanas. Na rede pública, ele é indicado para bebês com menos de 1 ano de idade que nasceram prematuras e crianças com menos de 2 anos com doenças pulmonares crônica ou cardíaca congênita.