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Publicado em 16/09/2022 17:57:44

O que uma lágrima pode dizer sobre sua saúde

Elas podem até ajudar a diagnosticar precocemente algumas doenças
Crédito: Reprodução

As lágrimas são um fluido que serve para manter os olhos úmidos e para transmitir sentimentos

Por Elena Vecino Cordero (*)

Podemos chorar quando faz muito frio, quando algo entra nos nossos olhos, quando estamos muito tristes ou muito alegres. E podemos também não ter lágrimas, se sofrermos da síndrome do olho seco.

Estas são algumas das informações que as lágrimas nos fornecem sem necessidade de analisá-las.

Mas, quando as examinamos detalhadamente, utilizando toda a tecnologia que temos disponível - como a análise de proteínas (proteômica) ou das suas gorduras dissolvidas (lipidômica) -, as lágrimas fornecem dados importantíssimos sobre o funcionamento do nosso organismo.

Elas podem até nos ajudar a diagnosticar precocemente algumas doenças.

Nosso grupo de pesquisa, concentrado no sistema visual, pesquisa as lágrimas há mais de 20 anos. E agora sabemos muito sobre elas, graças às técnicas acima.

Valiosas fontes de informação

O componente principal das lágrimas é a água salgada, mas elas contêm muitas outras substâncias dissolvidas - basicamente, uma camada de gordura secretada na base das pestanas pelas chamadas glândulas meibomianas, localizadas no interior da pálpebra e que deságuam na superfície ocular.

Este componente é misturado com o líquido aquoso excretado pelas glândulas lacrimais e, quando piscamos os olhos, é organizado de forma que a gordura fique na superfície, impedindo a evaporação da parte líquida.

Desta forma, a lágrima ficará em contato com a superfície ocular graças às chamadas moléculas mucinas, que fixam a lágrima à córnea (a parte transparente do olho).

A córnea é exatamente a parte com mais nervos do organismo - ou seja, aonde chegam mais terminações nervosas - e, por isso, as lágrimas mantêm contato quase direto com o sistema nervoso.

Por fim, a conjuntiva - a parte branca do olho - é muito vascularizada (possui muitos vasos sanguíneos). Por isso, caso sejam liberadas substâncias do sistema vascular, podemos também detectá-las nas lágrimas que banham esta parte do órgão visual.

Em resumo, poderíamos dizer que as lágrimas ficam em contato com os sistemas vascular, nervoso e glandular. Uma grande fonte de informações, mas em volume muito reduzido.

Biomarcador: o que é e para que serve?

Os biomarcadores são moléculas biológicas que se encontram no sangue ou em outros líquidos ou tecidos do corpo. Sua presença informa se o organismo está funcionando normalmente ou não.

Por isso, eles são empregados para prever doenças. Quanto antes tivermos informações sobre a alteração de algum marcador, mais cedo poderemos corrigir ou curar a sua causa.

Todos nós sabemos que níveis mais altos de glicose no sangue podem indicar diabetes; altos níveis de colesterol podem indicar doenças cardiovasculares; e de PSA, problemas da próstata.

Esta medição hoje é muito comum e poderá ser realizada no futuro por métodos menos invasivos que a extração de sangue, como a análise das lágrimas.

Atualmente, um dos objetivos das pesquisas biomédicas é descobrir novos biomarcadores e encontrar a forma de detectá-los de forma rápida e confiável.

Devemos ter em mente que o prognóstico de uma doença não depende da presença ou da ausência desses indícios biológicos, mas da sua quantidade, como acontece com os níveis de glicose, colesterol, PSA etc.

Por isso, os aparelhos capazes de detectá-los deverão também discriminar, de forma confiável, a quantidade em que estão presentes.

Poderemos detectar doenças através das lágrimas?

A resposta é sim.

Cada vez mais biomarcadores são identificados nas lágrimas, com capacidade de determinar a quantidade dessa molécula presente no organismo.

Atualmente, encontra-se em desenvolvimento o exame da lágrima para oferecer o chamado diagnóstico imediato, com aparelhos que permitem a análise simples e rápida desses marcadores.

Todos nós presenciamos o rápido desenvolvimento dos testes de covid-19. Na verdade, essa tecnologia já estava disponível. O que se fez durante a pandemia foi adaptá-la ao marcador específico da camada do vírus que se desejava detectar.

No caso das lágrimas, provavelmente será necessário analisar mais de um marcador simultaneamente e quantificar sua presença para garantir que estamos observando os reais indicadores de uma doença.

Também será preciso ter muito cuidado na forma de coleta da lágrima e sua transposição para o aparelho de análise.

Indícios de Parkinson, doenças coronarianas e câncer de mama

Foram recentemente publicados diversos artigos sobre a possibilidade de previsão ou diagnóstico precoce de doenças, analisando o fluido secretado pelos olhos.

Por isso, nosso grupo de pesquisa acaba de publicar um artigo indicando várias moléculas candidatas a se tornarem biomarcadores de Parkinson. A esperança é estudar outras moléculas que nos permitam identificar precocemente outras doenças neurodegenerativas, como Alzheimer.

Além disso, a identificação de um fator de crescimento (G-CSF) proveniente do sangue poderá ajudar a prognosticar a doença coronariana arterial, em conjunto com outros marcadores típicos dos transtornos cardiovasculares e a combinação de parâmetros como a idade, o sexo ou a espessura da conjuntiva.

No setor oncológico, diversas publicações recentes indicam a possibilidade de analisar as lágrimas para diagnosticar o câncer de mama.

Um passo importante neste campo foi o projeto de um tipo de lentes que seriam colocadas sobre a íris (a parte colorida do olho) do paciente. Elas possuem pequenos poços microscópicos onde o líquido é depositado, permitindo fazer o diagnóstico de teste diretamente no olho.

Depois de realizar exames de laboratório com lágrimas de pacientes, os pesquisadores identificaram marcadores relacionados ao câncer de mama, embora eles não tenham sido testados diretamente nas pessoas.

O diagnóstico precoce de doenças por meio de biomarcadores pode ser um marco para o futuro da biomedicina. As lágrimas podem oferecer as chaves para prevermos doenças de forma não invasiva, mas novas pesquisas ainda são necessárias.

 

(*) Elena Vecino Cordero é professora de biologia celular da Universidade do País Basco, na Espanha.

Fonte: Elena Vecino Cordero / The Conversation / BBC News
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