Em época de chuvas, as enchentes e alagamentos aumentam o risco de contrair a doença
A leptospirose é transmitida a partir do contato com a urina de animais, principalmente ratos, infectados pela bactéria Leptospira. No verão, época de chuvas mais fortes e frequentes, as enchentes e alagamentos aumentam o risco de contrair a doença através do contato com água suja e lama.
Segundo o infectologista do Hospital Israelita Albert Einstein Hélio Bacha, o "grande reservatório" da Leptospira é o rato urbano.
"Como o rato está presente no mundo todo, em todos os continentes, a leptospirose é uma doença universal", acrescentou.
A ocorrência da leptospirose costuma estar associada a condições precárias de infraestrutura sanitária e alta infestação de ratos infectados.
Inundações permitem que a bactéria se dissemine nos ambientes e facilitam a ocorrência de surtos, tornando os grupos que estão expostos a alagamentos frequentes mais vulneráveis à doença.
A transmissão da leptospirose se dá através do contato com a urina de animais infectados diluída na água das enchentes.
A contaminação ocorre através de mucosas, a partir de lesões na pele, ou mesmo em uma pele íntegra, se ficar imersa na água contaminada durante muito tempo.
O infectologista esclarece: "Não é a água da chuva que causa a doença, é a água das enchentes. Enchentes nas cidades, especialmente no Brasil, onde é muito comum a presença de ratos. Enchentes onde há presença de pessoas é um cenário típico de condição epidêmica da leptospirose".
O período de incubação da doença, ou seja, o intervalo entre a contaminação e o início dos sintomas, pode variar entre 1 e 30 dias, mas geralmente ocorre entre uma e duas semanas após a exposição.
Os principais sintomas da doença são:
- Febre
- Dor de cabeça
- Dor muscular, principalmente nas panturrilhas
- Falta de apetite
- Náuseas e vômitos
Caso o indivíduo tenha sido exposto à água de alagamentos ou enchentes, é importante ficar atento a estes sintomas. O diagnóstico da doença pode ser feito através de um exame de sangue.
No entanto, em aproximadamente 15% dos casos, a doença tende a evoluir para uma forma mais grave: a síndrome de Weil, que se manifesta com a tríade de icterícia, insuficiência renal e hemorragias.
"Na maior parte das vezes, a leptospirose tem uma apresentação clínica banal, que não chega nem a ser diagnosticada”, explicou Bacha. “A apresentação mais grave é uma evolução com insuficiência renal, que pode chegar a quadros gravíssimos, que nós chamamos de síndrome de Weil. Nessa condição, a mortalidade é alta".
As possíveis manifestações graves de leptospirose são:
- Síndrome de Weil (icterícia, insuficiência renal e hemorragias);
- Síndrome de hemorragia pulmonar (lesão pulmonar aguda e sangramento maciço);
- Comprometimento pulmonar (tosse seca, dispneia, expectoração hemoptoica);
- Síndrome da angústia respiratória aguda;
- Manifestações hemorrágicas (pulmonar, pele, mucosas, órgãos e sistema nervoso central).
Para evitar a transmissão é importante tentar minimizar ao máximo o contato com água suja durante alagamentos e tentar sair do ambiente atingido o mais rápido possível para evitar que a bactéria penetre na pele.
O governo federal também recomenda algumas medidas preventivas:
Cuidado ao retirar a lama de enchentes: a lama tem alto poder infectante e costuma aderir aos móveis, parede e chão. O recomendado é retirar a lama com proteção de luvas e botas de borracha e lavar o local com uma solução de água e água sanitária, deixando agir por 15 minutos.
Evitar o contato com água e lama de enchentes e impedir que crianças brinquem na água: para limpar e organizar o local ou desentupir o esgoto é importante usar botas e luvas de borracha (ou sacos plásticos amarrados nas mãos e nos pés).
Controle de roedores: para contribuir recomenda-se o acondicionamento e destino adequado do lixo, armazenamento apropriado de alimentos, desinfecção e vedação de caixas d’água e vedação de frestas e aberturas em portas e paredes.
Descartar alimentos e medicamentos que tiveram contato com a água de enchente.
Não pescar em rios e lagoas após as chuvas.
Para os casos mais leves, basta um atendimento ambulatorial, mas em casos graves a hospitalização deve ser imediata para evitar a evolução do quadro e diminuir a chance de letalidade.
O tratamento com uso de antibióticos deve ser iniciado no momento da suspeita.
"O fundamental nos cuidados terapêuticos é a diálise e o monitoramento da insuficiência de renal aguda, se por acaso houver essa apresentação. E o suporte clínico intensivo nos casos mais graves", explica Hélio Bacha.