PUBLICIDADE
PUBLICIDADE
O termo gaslighting carrega muito peso e seu uso indevido pode trazer consequências para relacionamentos, maturidade emocional ou entendimento preciso de conceitos psicológicos
Supostas trocas de texto entre o ator Jonah Hill e sua ex-namorada, a surfista Sarah Brady, provocaram conversas sobre os danos potenciais da fala terapêutica quando mal utilizada e o conceito de "gaslighting" — uma palavra popular entre os membros da comunidade de saúde mental e seus entusiastas.
Gaslighting é tão comumente discutido que a editora Merriam-Webster considerou a expressão a palavra do ano em 2022, após experimentar um aumento de 1.740% nas pesquisas pelo termo. Mas especialistas dizem que há muitos equívocos sobre o que é gaslighting e o que não é.
"Quando somos desafiados ou confrontados ou dizem: 'Ei, eu me lembro disso de maneira diferente', podemos pensar que estamos sendo vítimas de gaslighting, quando, na verdade, estamos sendo confrontados com um comportamento e solicitados a mudá-lo — em vez de sermos informados que somos ruins ou que não nos lembramos das coisas corretamente ou que somos emocionalmente instáveis", disse Vanessa Kennedy, diretora de psicologia do Driftwood Recovery, um centro de reabilitação residencial no Texas.
Algumas pessoas utilizam termos psicológicos como gaslighting como armas quando outras simplesmente fazem algo de que não gostam, o que é errado, disse Monica Vermani, psicóloga clínica do Canadá e autora de A Deeper Wellness: Conquering Stress, Mood, Anxiety and Traumas.
Gaslighting é, na verdade, "uma forma altamente calculista de manipulação – que envolve a desestabilização — de um indivíduo por outro durante um período prolongado de tempo", disse Vermani.
"Mais comumente, o gaslighting — também conhecido como controle coercitivo — é realizado por alguém em uma posição de confiança que está em contato próximo com o alvo", acrescentou ela. "É um meio complexo e geralmente deliberado de controlar intencionalmente um indivíduo, que é realizado por um longo período de tempo".
Como "o contato próximo é fundamental aqui", acrescentou Vermani, a pessoa que faz gaslighting geralmente é um parceiro romântico, um amigo íntimo, membro da família ou um colega próximo.
Alguém que agride outra pessoa a desestabiliza e controla atacando suas faculdades mentais para fazer a vítima pensar que sua estabilidade emocional, credibilidade ou memória é falha — fazendo com que a vítima desconfie de si mesma e confie mais na pessoa que a está agredindo, disse Kennedy.
O gaslighting também ajuda o perpetrador a evitar qualquer culpa ou responsabilidade por suas ações. "A pessoa joga mais com suas inseguranças e tenta atacar sua autoestima", acrescentou.
O conceito de gaslighting originou-se do filme Gaslight de 1944 e da peça de 1938 na qual foi baseado. Nela, "um marido está tentando convencer sua esposa de que ela está ficando louca e percebendo as coisas de forma imprecisa", disse Kennedy. "Ao longo do filme e com o tempo, ela começa a sentir que está, de fato, mergulhando na insanidade psicológica".
O termo gaslighting carrega muito peso, e seu uso indevido pode trazer consequências para nossos relacionamentos, maturidade emocional ou entendimento preciso de conceitos psicológicos.
Mas, ao mesmo tempo, a consciência do que constitui abuso emocional pode ajudar as pessoas a evitar relacionamentos prejudiciais e ameaçadores. Aqui está mais sobre o que gaslighting é e o que não é, e como confrontar alguém exibindo esse comportamento em relação a você.
Existem outros equívocos comuns sobre a natureza do gaslighting, dizem os especialistas. Se um ente querido discorda de você ou tenta mudar sua opinião, prefere estar "certo" em uma discussão ou fica surpreso quando confrontado — isso não é necessariamente gaslighting. Tampouco alguém está tentando minimizar seu comportamento prejudicial ou lançar dúvidas sobre suas opiniões ou perspectivas, disse Vermani.
O que empurra esses comportamentos para o território do gaslighting tem a ver com o que a pessoa com quem você está lidando diz e suas intenções por trás disso.
Os gaslighters "são pessoas tipicamente emocionalmente abusivas — muitas vezes com baixa autoestima — que desejam controlar os outros em vez de se envolver em relacionamentos mutuamente respeitosos que exigem consideração, empatia, compaixão e bondade", disse Vermani. "Eles buscam maneiras de minar e dominar alguém que temem perder, independentemente do dano causado ao alvo".
Nem todo gaslighting é intencional, pois algumas pessoas crescem testemunhando esses padrões e subconscientemente os adotam como um mecanismo de enfrentamento ou método de resolução de conflitos, dizem os especialistas.
Mas, geralmente, os gaslighters costumam "mentir e enganar intencionalmente para confundir seu alvo", disse Vermani, ou negar suas próprias mentiras ou a verdade de seu alvo, "mesmo diante de evidências em contrário".
Os gaslighters geralmente isolam os alvos de seus círculos sociais, insinuando que seus amigos não têm seus melhores interesses em mente para enfraquecer seu senso de realidade e de si mesmos, dizem os especialistas.
Eles podem dizer: "Mesmo se você contasse a outras pessoas sobre o que está acontecendo, ninguém acreditaria em você porque as pessoas sabem que você é irracional ou inventa coisas", disse Kennedy. Todas essas declarações servem para tornar a vítima mais dependente do gaslighter.
Outros sinais ou efeitos do gaslighting podem incluir pensar que os sentimentos da outra pessoa sempre parecem importar mais do que os seus, ou estar constantemente ansioso ou tenso perto da pessoa, disse Duygu Balan, psicoterapeuta especializado em traumas na área da baía de São Francisco. Você também pode abster-se de compartilhar como se sente por medo de que o gaslighter reaja de forma exagerada, com xingamentos ou tirando sarro de você.
"Se não há segurança para você se expressar, então essa é uma situação em que há um relacionamento tóxico", disse Balan.
O grau em que uma pessoa manipula outra pessoa pode variar, mas o gaslighting é sempre um abuso emocional, intencional ou não, dizem os especialistas. E o gaslighting pode ter consequências insidiosas, especialmente depois de um longo período de tempo.
"Você começa a se perguntar se você é a razão pela qual essa pessoa está fazendo isso com você", disse Vermani. "Essa dúvida pode ser bastante prejudicial em um nível intrínseco. Você dá desculpas para o comportamento da outra pessoa porque essa pessoa dá desculpas para seus comportamentos. Às vezes, você se esforça para protegê-los porque acredita que eles são mais inteligentes ou mais capazes do que você".
Sua capacidade de confiar em seu instinto também pode sofrer. "Com o tempo, o efeito do gaslighting pode corroer seu autorrespeito e sua capacidade de escolher situações saudáveis para si mesmo que o farão feliz e gratificante", disse Kennedy.
Se você se sentir seguro o suficiente para confrontar a pessoa que pode estar abusando de você, primeiro concentre-se em estabelecer limites com ela, dizem os especialistas. Pode ser útil compartilhar sua experiência detalhada sobre o comportamento deles, em vez de simplesmente dizer: "Sinto que você está me enganando".
Além disso, "você pode encerrar a conversa ou desligar e dizer: 'Não vou mais me envolver nesse tipo de conversa. Eu sei o que vi'", disse Kennedy.
Se o gaslighter for alguém muito próximo a você, você também pode sugerir aconselhamento ou terapia juntos, acrescentou ela.
Se o comportamento persistir, quanto tempo você permanecerá no relacionamento é uma decisão pessoal, disse Kennedy. Você pode dar à pessoa um período de tempo específico dentro do qual gostaria de ver mudanças em seu comportamento, após o qual você reavaliaria.
"Mas, de alguma forma, você tem que decidir qual é o custo emocional que está cobrando de você e de sua autoestima", disse Kennedy. "Às vezes não é seguro abordar o gaslighter no relacionamento e é mais seguro ir embora".
Obter ajuda pode ser necessário se você estiver lutando em um relacionamento com um gaslighter ou com o trauma que o gaslighter pode causar. "Busque o apoio de pessoas em quem você confia — geralmente pessoas que sabem que você está em uma situação difícil e que ficaram de lado, esperando para oferecer ajuda", disse Vermani.
Conversar com um terapeuta pode ajudá-lo a obter uma perspectiva objetiva e ver com mais clareza quaisquer sinais de comportamento gaslighting e abuso psicológico, disse Kennedy.
