Os analgésicos opioides vêm sendo fabricados pela indústria farmacêutica há mais de 200 anos. E, ainda hoje, são os medicamentos mais poderosos contra a dor
Nas ruas, na balada e em centros de tratamento: o programa Profissão Repórter (TV Globo) exibido nessa terça-feira (24/10) investigou quais são as drogas usadas atualmente e os impactos que elas provocam na saúde da população. Uma das principais preocupações mundo afora é o uso recreativo dos medicamentos opioides.
No Brasil, a dependência de opioides é alta: três vezes maior que a do crack. Segundo a Fiocruz, pelo menos quatro milhões de brasileiros já usaram algum medicamento dessa classe sem indicação médica. (Conheça a potência de cada dos desses medicamentos mais abaixo)
A equipe de reportagem foi até Itapecerica da Serra, em São Paulo, para visitar uma clínica de reabilitação focada na dependência de opioides e conversou com um usuário, que não quis se identificar.
"Já usei mais de 30 substâncias ao longo da minha vida. Só que eu sou farmacodependente. Estava usando morfina, codeína e oxicodona", relatou.
Os analgésicos opioides vêm sendo fabricados pela indústria farmacêutica há mais de 200 anos. E, ainda hoje, são os medicamentos mais poderosos contra a dor. Como o risco de dependência é alto, o controle de venda precisa ser rígido e uma prescrição médica é exigida para a venda.
Morfina: descoberta a partir do ópio, que é a seiva da papoula, a morfina é o mais antigo opioide para tratar dor intensa. É também usada como padrão para medir a potência de outros medicamentos da mesma classe.
Codeína: opioide mais vendido no Brasil, indicado para dor moderada, é mais fracO que a morfina.
Oxicodona: também é vendida no Brasil, é 1,5 vez mais potente que a morfina. Foi esse medicamento que provocou o início a primeira onda de mortes por opioides nos EUA em 1999. Usuários de oxicodona migraram para a heroína – droga ilegal, 50 vezes mais forte que a morfina.
Fentanil: o opioide mais potente que existe. É 100 vezes mais forte que a morfina. Uma pequena quantidade é o suficiente para que o medicamento leve uma pessoa a morte.
O mais potente, o fentanil, apareceu em apreensões no Brasil este ano. A polícia acredita que está sendo usado para potencializar a cocaína e outras drogas.
A dependência de medicamentos opioides acontece de forma rápida e, muitas vezes, de forma imperceptível.
"Em questão de um mês, dois, eu comecei a multiplicar as doses, o consumo. (...) É um prazer momentâneo. Muito intenso de analgesia. Porém, a consequência é muito devastadora", relatou o paciente da clínica de Itapecerica da Serra.
"Basicamente, são duas fontes de entrada. Uma, é o paciente que já busca recreativamente o uso de opioides para ter algum prazer, e a outra, que tem sido a maioria até então, que são pacientes que tiveram dor, fizeram o uso prescrito por um médico, e desenvolveram dependência", explicou André Malbergier, coordenador do ambulatório de opioides do Hospital das Clínicas.
Segundo o perito criminal Emerson Oliveira, tem sido comum encontrar fentanil e outros opioides misturados nas drogas K, que causam o chamado "efeito zumbi", e têm se popularizado no Brasil.
Em São Paulo, a repórter Danielle Zampollo flagrou jovens usando drogas K em um terminal de ônibus na Zona Leste.
Feita em laboratório, e com nomes diversos, as K pertencem ao grupo de Novas Substâncias Psicoativas. As chamadas drogas K surgiram em laboratórios e têm como base os canabinoides sintéticos.
Os canabinoides sintéticos agem no cérebro nas mesmas áreas que a maconha atua, mas não são derivados da planta.
A reportagem mostra também como funciona o HUB de cuidados em crack e outras drogas, um serviço público que fica no centro de São Paulo. Dados do HUB mostram que 1 em cada 5 pacientes é usuário de drogas K.
Os Estados Unidos vivem o pico da epidemia de mortes por opioides de toda sua história.
Só esse ano, mais de 100 mil pessoas morreram por overdose no país, segundo o departamento de saúde norte-americano. O mais preocupante: 60% dessas mortes foram causadas pela mesma droga, o fentanil.
Na cidade de Nova Iorque, a situação é ainda pior: de todas as mortes por overdose, 80% estão relacionadas ao fentanil.