Marina Vasconcellos, psicóloga pela PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo) com especialização em psicodrama terapêutico, explica que a atração geralmente é a primeira etapa do "gostar de alguém", mas é diferente do desejo.
A atração, explica, seria um interesse, seja por um sujeito ou algo que ele faça, relacionado a sua aparência, seus gestos, seu vestir, podendo ser algo focado ou ampliado, e que, quando chama muito a atenção, leva ao desejo.
"Você começa a querer o objeto pelo qual se sente atraído, a pensar naquela pessoa, fantasiar situações, procurar algum meio de estabelecer um contato, uma mera aproximação que seja", continua a psicóloga.
Mas ela assegura que relações afetivas são complexas, não seguem roteiros pré-definidos, e que a atração pode, sim, dar as caras só depois de se conhecer bem alguém, como acontece com casais que antes de apaixonarem mantinham relação de amizade.
De acordo com estudos da Universidade de Illinois (EUA), publicados entre 2010 e 2018 no periódico científico Personality and Social Psychology, a partir de resultados obtidos em experimentos com voluntários, os pesquisadores demonstraram que o cérebro humano tende a se interessar, inclusive do ponto de vista sexual, pelo que lhe parece mais familiar.
1. Gente como a gente
"Muitas vezes, somos atraídos por alguém que é parecido conosco ou com nossos pais porque, de maneira inconsciente, reconhecemos uma série de características que herdamos e priorizamos", explica Eduardo Perin, psiquiatra pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e especialista em sexualidade pelo InPaSex (Instituto Paulista de Sexualidade). Sem a presença de quem amamos, a projeção do afeto e a atenção dada a esse "date" é ainda maior.
2. Desafiador
O interesse que alguém nos desperta tem a ver com seu físico, sua personalidade, suas expressões e falas (que podem remeter tanto a nós como a nossos pais), mas também atitudes específicas que nos desafiam pelas similaridades com outras que não foram muito agradáveis para nós. Pode parecer estranho, mas, de acordo com Perin, sentimos atração ou damos mais chances para relações que instigam situações difíceis iguais às passadas com os nossos pais.
3. Ajuda a recomeçar
Todos nós saímos principalmente da primeira infância com algumas 'feridas' e, muitas vezes, essas relações novas, inconscientemente, nos possibilitam tentar resolver conflitos que ficaram para trás, recomeçar de onde paramos, para nos superarmos.
Nesse processo de "reparação", busca-se no outro por traços geralmente difíceis da mãe ou do pai e que se relacionam com reprovações, medos, ciúmes. "É uma questão que tem muito a ver com as teorias psicanalíticas de Sigmund Freud", acrescenta Gabriela Malzyner, psicóloga com mestrado pela PUC-SP.
4. Opostos também podem nos despertar
Podemos buscar por pessoas parecidas numa tentativa de resolução de conflitos, mas do ponto de vista biológico, muitas vezes até por novidade, sentimos atração física e sexual por quem apresenta características bastante ou completamente diferentes das nossas.
Mas em se tratando de interesses e posicionamentos divergentes, pode não dar certo. É que ao contrário de quando existe alguma compatibilidade, mesmo que desafiadora, o inteiramente antagônico não só dificulta transpor questões preexistentes, como impulsiona outras novas, tornando o relacionamento difícil.