Segundo especialistas, olhar para os fatores de risco que levam à hipertensão arterial é importante para colocar um freio nas estatísticas da doença que, nas últimas décadas, aumentaram no Brasil
A hipertensão arterial, mais conhecida como pressão alta, é uma doença influenciada tanto por fatores de risco internos como externos. A genética tem um papel nisso tudo, mas o consumo excessivo de sal, a má alimentação e o sedentarismo têm impacto determinante para uma pessoa ficar hipertensa.
Segundo médicos especialistas, olhar para os "vilões" que levam à doença é importante para colocar um freio nas estatísticas que, nas últimas décadas, têm aumentado consideravelmente no Brasil.
- Hoje, cerca de 38 milhões de brasileiros vivem com hipertensão arterial.
- A taxa de mortalidade a cada 100 mil habitantes passou de 11,8 óbitos em 2011 para 18,7 em 2021 - é o maior valor em 10 anos.
Os altos índices no Brasil colocam a pressão alta como um caso grave de saúde pública.
Esta reportagem faz parte de uma série que analisa o aumento dos casos de hipertensão arterial no país, mostra o que realmente funciona contra a pressão alta e explica como é feito o diagnóstico e a partir de qual idade se deve começar a medir a pressão.
Confira abaixo os cinco principais fatores de risco para a hipertensão arterial - e como controlá-los.
É o principal fator de risco para a pressão alta: está presente em 30% a 50% dos casos. Isso significa que todo mundo com um caso na família tem uma chance maior de desenvolver a doença.
Diferentemente de outras doenças que podem ser "herdadas", no caso da pressão alta não existe um único gene específico que leve à condição. Geralmente, é um conjunto de genes que podem estar alterados e que interagem com fatores externos, como a alimentação.
"Por exemplo: você pode ter uma alteração genética relacionada à sensibilidade ao sal. Se você come muito sal, poderá desencadear os efeitos disso de uma maneira mais intensa e rápida do que quem não tem aquela alteração genética", diz Andréa Araujo Brandão, cardiologista da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC).
Um estudo publicado em 2019 feito com mais de 1 milhão de pacientes nos Estados Unidos mostrou que variações de DNA em mais de 900 genes estão associadas ao controle da pressão arterial.
- Auem tem uma pré-disposição genética para hipertensão precisa dar uma atenção maior e cada vez mais cedo para o estilo de vida, priorizando a alimentação equilibrada, a prática de exercício físico e o controle do estresse.
"Se você tem um pai e mãe com hipertensão, você tem uma alta chance de desenvolvê-la a partir dos 40 ou 50 anos. Agora, se você tem esse antecedente familiar e não se alimenta direito, come muito sal, para de fazer exercício, você vai ter hipertensão com 20 ou 30 anos" afirmou o cardiologista e presidente da Sociedade Brasileira de Hipertensão (SBG), Luiz Bortolotto.
O segundo "vilão" da pressão alta pode estar escondido no armário da sua cozinha. Depois da genética, o excesso de sal é o fator de maior influência para a doença.
Estudos científicos mostraram que a pressão arterial de pessoas que consomem muito sal foi até seis vezes maior do que a pressão arterial de pessoas que ingeriram as quantidades recomendadas.
O brasileiro consome, em média, 9,3 gramas por dia, MUITO acima da recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS), que é de 5 gramas diárias, que equivalem a 2 gramas de sódio.
Para manter os níveis de pressão adequados, o ideal é maneirar na dose de sal de cozinha que você coloca na comida. Outra dica é ler os rótulos de alimentos industrializados para verificar a quantidade de sódio existente naquele produto.
Sal e sódio são a mesma coisa? Não. O sódio é um mineral e está presente no sal de cozinha. O sal de cozinha é composto por 40% de sódio e 60% de cloreto. 1 grama de sal equivale a 400mg de sódio.
O sódio é um componente que aparece com força em uma classe específica de alimentos: os ultraprocessados.
São exemplos de ultraprocessados biscoitos recheados, macarrão instantâneo, salgadinhos de pacote e refrigerantes.
Eles são fabricados em diversas etapas e técnicas de processamento e possuem MUITOS ingredientes que, em grande quantidade, fazem mal para a saúde.
Mas os ultraprocessados não estão ligados à pressão alta apenas por causa do sódio. Trocar alimentos in natura por alimentos embalados e prontos levam ao sobrepeso e à obesidade, que podem se agravar com a falta de exercício físico. É o combo "perfeito" para a hipertensão e outras doenças crônicas, como a diabetes.
Qual a diferença entre alimentos in natura, processados e ultraprocessados? Vamos dar o exemplo do abacaxi: a fruta fresca é in natura; o abacaxi em calda, vendido em lata, é um alimento processado; já o suco em pó de abacaxi é considerado ultraprocessado, conforme o Guia Alimentar para a População Brasileira do Ministério da Saúde.
"Se tem um número maior de pessoas com sobrepeso e obesidade, e essas taxas têm crescido no Brasil, há uma chance maior de aumentar o número de pessoas com pressão arterial elevada", afirma a cardiologista Andréa Brandão.
- A obesidade atinge 6,7 milhões de pessoas no Brasil, segundo o Ministério da Saúde. O número de pessoas com obesidade grau III - nível mais grave - saltou de 407 mil em 2019 para 863 mil em 2022.
- Na Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) de 2019, 40,3% dos adultos foram classificados como insuficientemente ativos (que não praticam atividade física ou praticaram menos de 150 minutos por semana, levando em consideração lazer, trabalho e deslocamento).
- Na mesma pesquisa, 68,3% dos indivíduos reportaram consumir feijão em cinco ou mais dias da semana e cerca de 13% tiveram consumo regular de frutas e hortaliças recomendado. Apenas 14% afirmaram não ter consumido alimentos ultraprocessados no dia anterior à pesquisa.
As taxas de hipertensão diminuíram nos países ricos e aumentaram em muitos países de baixa ou média renda entre 1990 e 2019, de acordo com um estudo da OMS e da Imperial College London publicado na Revista Lancet em 2021.
Isso coloca as condições socioeconômicas de um país como fator relevante para a pressão alta, por conta da falta de acesso ao diagnóstico e ao tratamento corretos, mesmo que a hipertensão seja uma doença fácil de diagnosticar e com remédios considerados de custo baixo.
As finanças de casa também contam: famílias com menos poder de compra e, por vezes, assombradas pelo desemprego, tendem a consumir mais alimentos prontos e ultraprocessados.
Dados de 2019 apontavam para mais de 1,28 bilhão de pessoas com hipertensão em todo o mundo. Dessas, 82% viviam em países de média ou baixa renda.
Enquanto 70% das pessoas diagnosticadas no Canadá, na Islândia e na Coreia do Sul estavam fazendo tratamento, menos de 20% das pessoas com a doença tinham acesso a medicamentos em países como Ruanda, Quênia e Ilhas Salomão.
E no Brasil, como é?
Pacientes podem medir a pressão arterial e ter acesso a medicamentos no SUS. Só na Farmácia Popular, são 10 remédios para hipertensão arterial distribuídos de graça.
O Ministério da Saúde afirmou que o rastreamento, a busca ativa de usuários do SUS com hipertensão e o acompanhamento da pressão arterial dos diagnosticados fazem parte das estratégias para prevenção e controle da hipertensão no Brasil.
Quando maior a idade, maiores são as chances de se ter pressão alta. Cerca de 60% das pessoas com 60 anos ou mais tem hipertensão no Brasil. Com a idade avançada e sem tratamento, aumentam as chances da doença ser fatal.
Não diagnosticar e não tratar a hipertensão leva a complicações, alertam os especialistas, como infarto e acidente vascular cerebral (AVC), entre outras.
Com o envelhecimento, há um endurecimento das artérias. E esse endurecimento cria mais resistência ao batimento do coração e à pressão máxima. Então, o tratamento precisa ser focado nisso, pois a gente não consegue desendurecer a artéria, agimos mais no ponto.
— Luiz Bortolotto, cardiologista
- A taxa de mortalidade por hipertensão da população de 60 a 69 anos é de 41,4 óbitos por mil habitantes. Já para a faixa etária de 70 a 79 anos, são 97 óbitos por mil habitantes.
- Esse número salta para 381,7 óbitos a cada 100 mil habitantes na população com 80 anos ou mais.
"O importante é diagnosticar precocemente. Medir a pressão uma vez por ano com um profissional de saúde, conhecer a sua pressão e adotar hábitos saudáveis. Reduzir a quantidade de sal, fazer atividade física regular, controlar o peso e também o manejo do estresse, buscando momentos de respiro e equilíbrio", afirmou Bortolotto.
- Comer de forma saudável: Estudos apontam para o consumo ponderado de frutas, verduras, legumes, cereais, leite e derivados, com pouca gordura e pouco sal. As Diretrizes Brasileiras de Hipertensão destacam a dieta DASH, que valoriza verduras, legumes, frutas, laticínios com baixo teor de gordura, cereais integrais, peixes, aves e nozes, e incentiva um menor consumo de carnes vermelhas e processadas, sódio e bebidas açucaradas.
- Exercitar-se: Fazer atividade física ajuda a reduzir a pressão arterial, segundo a ciência. A OMS recomenda a prática moderada de 150 minutos por semana ou 75 minutos por semana de um treino mais intenso. Dá para fazer exercícios aeróbicos (caminhada, corrida ou natação) ou exercícios resistidos (musculação, funcional). Busque ajuda com um profissional de educação física.
- E atenção: cigarro e bebidas alcoólicas em excesso não fazem bem para a saúde, inclusive para a pressão arterial.
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