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Publicado em 31/03/2022 13:05:46

O inimigo sou eu

Quando Pedro fala sobre Paulo, sei mais sobre Pedro do que sobre Paulo

Por Leonardo Stoffels
Psicólogo - CRP 07/35482

O psicanalista Contardo Calligaris, que nos deixava há um ano na semana em que escrevo este texto (30/03), disse uma vez que "quanto mais temos liberdade, mais nos tornamos algozes dos outros, porque é nos outros que tentamos reprimir a liberdade que não toleramos em nós mesmos". Bem, Elliot Spitzer, ex-governador do estado de Nova York, passou anos lutando contra a prostituição até se envolver em um escândalo sexual, quando, em 2008, foi revelado pelo jornal New York Times que ele era o patrono de um serviço de acompanhantes, o que resultou na renúncia do cargo de governador que então ocupava. Spitzer não foi o primeiro político que prezava pela preservação da família e foi flagrado com as calças abaixadas, tampouco será o último. Casos como esse imediatamente lembram outros, por exemplo o de algum pastor que prega contra a homossexualidade e é encontrado com um garoto de programa. Tudo isso acontece porque existem mecanismos de defesa que a nossa mente cria para reprimir nos outros o que não toleramos em nós mesmos, e é sobre isso que falarei hoje.

A psicanálise chama essa aversão em específico de projeção ou de formação reativa. Você, leitor, provavelmente chamaria de falsidade ou hipocrisia. E é verdade, sou defensor da teoria de que a humanidade não se sustenta sem hipocrisia: a nossa mente consciente não consegue dar conta de todos os nossos desejos, medos, frustrações, fracassos e excessos de expectativas não correspondidas, produzindo assim uma sombra, uma coisa que não é acessível à luz da consciência. Sim, porque odiamos no outro não apenas aquilo que não suportamos em nós, mas também aquilo que nem sabemos existir dentro da gente. Há homofóbicos que não sabem que são homossexuais (o Brasil é país que mais mata transexuais, e também o que mais os procura em casas de prostituição. Coincidência? acho que não!), há racistas que não sabem que são racistas (é o que hoje chamam de racismo estrutural), há defensores da preservação da família que não sabem o quanto desejam o adultério em seu íntimo.

Como a terapia resolve isso? O terapeuta precisa através da escuta identificar o que há por trás do discurso de seu paciente. As histórias que contamos sobre os outros trazem algo em si que é desconhecido para nós mesmos. Por exemplo, feche os olhos e pense em uma pessoa violenta que você conviveu na escola, na faculdade, no ambiente de trabalho ou numa reunião de pais, uma que adora discutir com você, criar intrigas e brigas desnecessárias. Todos conhecemos uma pessoa assim, que ocupou, ao menos temporariamente, o papel de nosso inimigo, mas será que ela tem consciência do jeito que age com você? Se você conseguir se aproximar dela e ter uma conversa profunda, com a mente aberta e livre de julgamentos, pode se surpreender ao perceber que ela pensa de você o mesmo que você pensa dela. Que todas as discussões que ela teve com você aconteceram (na opinião dela) por iniciativa sua. Que todos os argumentos contra o inimigo que você reuniu com a ajuda do seu grupo de amigos não são muito diferentes dos argumentos que o seu inimigo reuniu contra você com os amigos dele. Quem está certo? nenhum dos dois! é um colocando nas costas do outro o que não tolera em si.

Quando Pedro fala sobre Paulo, sei mais sobre Pedro do que sobre Paulo. Sendo assim, toda vez que você for abrir a boca pra falar mal de alguém ou de alguma causa, pense bem se o problema não é com você… E faça terapia!

Psicólogo Leonardo Stoffels
Fone/Whats: (55) 9.9632.5546
Clínica Espaço Saúde
Rua Neco Januário, 556 | Cerro Largo - RS

Fonte: Leonardo Stoffels, Psicólogo (CRP 07/35482)
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