Nessa quinta-feira (24/11), a Organização Mundial da Saúde (OMS) afirmou ter pedido oficialmente à China mais informações sobre relatos de surtos de pneumonia entre crianças ainda sem causa definida. O anúncio foi feito após meios de comunicação e infectologistas relatarem que hospitais pediátricos estariam sobrecarregados.
Ainda não se sabe o agente exato por trás da doença, e os surtos ocorrem em meio ao aumento de infecções respiratórias no país, como gripe, Covid-19 e bronquiolite infantil – causada pelo Vírus Sincicial Respiratório (VSR) –, após os anos de medidas rígidas da “Covid zero”, que mantiveram o coronavírus, assim como os outros patógenos, controlados.
Abaixo, entenda tudo o que se sabe até agora sobre os surtos de pneumonia misteriosa:
Segundo a OMS, os relatos sobre surtos de pneumonia sem causa definida nos meios de comunicação e de infectologistas no Programa de Monitoramento de Doenças Emergentes (ProMED), da Sociedade Internacional de Doenças Infecciosas, começaram no último dia 21.
Porém, antes, no dia 13, autoridades chinesas da Comissão Nacional de Saúde já haviam relatado um aumento da incidência de doenças respiratórias no geral, como gripe, Covid-19, bronquiolite infantil e Mycoplasma pneumoniae (uma infecção bacteriana comum que geralmente afeta crianças mais novas).
A OMS diz que ainda não se sabe se há relação entre os surtos de pneumonia sem causa definida e o aumento generalizado de moléstias respiratórias.
Os relatos são de surtos no Norte da China, em Pequim, capital do país, e na província de Liaoning. Em um comentário, editores do ProMED destacam a distância entre as localidades: quase 800 km.
"Não está claro quando este surto começou, pois seria incomum que tantas crianças fossem afetadas tão rapidamente. (...) O ProMED aguarda informações mais definitivas sobre a etiologia e o alcance desta doença preocupante na China", diz.
De acordo com o relato de Dan Silver, um dos especialistas que abordaram o cenário no ProMED, e dos meios de comunicação, os pacientes estariam apresentando febre alta e nódulos pulmonares. Além disso, uma diferença em relação a outras infecções seria a ausência de tosse.
"A doença nas crianças é febre sem tosse ou outros sintomas, mas em alguns casos podem ser observados nódulos pulmonares na radiografia de tórax. Atualmente, não sabemos a faixa etária mais afetada, mas parece que as crianças em idade escolar são certamente afetadas", diz o epidemiologista Paul Hunter, professor da Universidade East Anglia, no Reino Unido.
Ainda não há registros oficiais sobre número de casos ou possíveis óbitos atribuídos à pneumonia sem causa definida. Segundo as informações até agora, porém, os hospitais estariam sobrecarregados.
Ontem, a OMS disse que demandou à China “informações epidemiológicas e clínicas adicionais, bem como resultados laboratoriais desses grupos relatados entre crianças”. A organização também afirmou estar em contato com médicos e cientistas na China.
Segundo o relato no ProMED, aulas nas regiões afetadas estariam sendo canceladas devido à doença. Pouco depois do anúncio, a agência estatal de notícias do governo chinês, Xinhua, publicou uma entrevista com autoridades da Comissão Nacional de Saúde não identificadas em que menciona o aumento de doenças respiratórias no país.
Elas disseram que continuam "a prestar atenção ao diagnóstico e tratamento de crianças suscetíveis durante o período de alta incidência de doenças infecciosas” e que orientam “todas as localidades a fortalecer o planejamento geral e implementar um sistema hierárquico de diagnóstico e tratamento".
Em relação à lotação de hospitais, afirmaram que foram exigidas “a orientação técnica para instituições médicas e de saúde primárias”, a melhora das "capacidades de diagnóstico e tratamento de infecções gerais e a eficiência da identificação e encaminhamento de doenças graves".
Os surtos relatados no Norte da China de pneumonia em crianças ainda não têm a causa definida. Há a suspeita de que esteja associada a outros patógenos respiratórios que, segundo a OMS, estão em alta no país desde o mês passado.
“Desde meados de Outubro, o Norte da China relatou um aumento de doenças semelhantes à gripe em comparação com o mesmo período dos três anos anteriores (pré-pandemia). A China dispõe de sistemas para recolher informações sobre tendências na gripe, doenças semelhantes à gripe, VSR e SARS-CoV-2, e relatórios para plataformas como o Sistema Global de Vigilância e Resposta à Gripe”, diz em comunicado.
O professor do Instituto de Genética da University College of London, no Reino Unido, François Balloux, afirma acreditar que os surtos têm relação com o fim do período de isolamento devido à Covid-19, e ressalta que até então não há motivo para pensar em um novo vírus ou bactéria.
"A China está provavelmente vivendo uma grande onda de infecções respiratórias infantis agora, uma vez que este é o primeiro inverno após o seu longo confinamento, o que deve ter reduzido drasticamente a circulação de infecções respiratórias e, portanto, diminuindo a imunidade a patógenos endêmicos (...) A menos que surjam novas evidências, não há razão para suspeitar do surgimento de um novo patógeno", diz.
É como pensa também Paul Hunter, que cita a predominância de casos em crianças, e não em indivíduos mais velhos.
"Embora não possamos fazer um diagnóstico definitivo nesta fase, a presença de nódulos pulmonares tende a sugerir uma causa bacteriana e não viral. (...) No geral, isto não me parece uma epidemia devido a um novo vírus. Se fosse, eu esperaria ver muito mais infecções em adultos. As poucas infecções relatadas em adultos sugerem imunidade existente devido a uma exposição anterior", afirma.
As autoridades chinesas, na entrevista à Xinhua, orientam que "crianças com sintomas leves procurem primeiro instituições médicas primárias, pediatras", devido ao risco de contaminação em hospitais.
"De acordo com orientação de especialistas, crianças que apresentam febre extremamente alta ou febre persistente por mais de três dias, tosse frequente que afeta a vida normal, mau estado mental ou mesmo sonolência, aumento da frequência respiratória ou dificuldade em respirar, vômitos frequentes, erupções cutâneas, dores de cabeça ou convulsões, entre outros, devem ser examinadas", continuam.
A OMS diz "recomendar que as pessoas na China sigam medidas para reduzir o risco de doenças respiratórias, que incluem a vacinação; manter distância de pessoas doentes; ficar em casa quando estiver doente; fazer exames e receber cuidados médicos conforme necessário; usar máscaras conforme apropriado; garantindo uma boa ventilação; e lavagem regular das mãos".
A OMS ressaltou que, embora precisasse de informações adicionais, recomendou que a população na China siga medidas para reduzir o risco de doenças respiratórias.
Isso inclui:
- vacinação;
- manter distância de pessoas doentes;
- ficar em casa quando doentes;
- fazer testes e receber cuidados médicos conforme necessário;
- usar máscaras conforme apropriado;
- garantir uma boa ventilação; e
- lavar regularmente as mãos.
A organização de saúde não desaconselha viagens e comércio, pois tem monitorado a situação junto às autoridades.
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